“No dia da mulher as mulheres organizadas
manifestam-se contra a sua falta de direitos. Mas alguns dizem: Por quê
esta separação das lutas das mulheres? Por quê há um dia da mulher,
panfletos especiais para trabalhadoras, conferências e comício? Não é,
enfim, uma concessão às feministas e sufragistas burguesas? Só aqueles
que não compreendem a diferença radical entre o movimento das mulheres
socialistas e as sufragistas burguesas podem pensar desta maneira (...).
Um pouco sobre a luta
das mulheres...
Segundo Engels, “De
acordo com a concepção materialista, o fator decisivo na história
é, em última instância, a produção e reprodução da vida
imediata. Mas essa produção e reprodução são de dois tipos: de
um lado, a produção de meios de existência, de produtos
alimentícios, habitação e instrumentos necessários para tudo
isso; de outro lado, a produção do homem mesmo, a continuação da
espécie”.
Este é o ponto de
partida que se necessita ter para analisar a questão da mulher e a
importância de sua luta.
No sistema capitalista,
de que forma a mulher da classe trabalhadora participa da divisão de
trabalho para realizar tal produção e reprodução da vida? Esta
reflexão faz-se necessária já que existe uma divisão sexual
destes trabalhos e esta não ocorre como uma simples divisão de
tarefas. É, ao contrário, hierarquizada, na qual o trabalho
realizado pelos homens é socialmente valorizado e o realizado pelas
mulheres - ocorrendo este dentro ou fora da esfera doméstica –
subjugado e considerado socialmente inferior.
A desvalorização do
trabalho feminino não é algo ‘natural’, ou seja, fruto de suas
características biológicas. É, na verdade, fruto de construções
históricas, das quais o capitalismo se apropria para - seja mantendo
a mulher dentro do lar, responsável pela reprodução da força de
trabalho, ou, seja a empregando nos serviços mais desqualificados e
menos remunerados - aumentar ainda mais a exploração da classe
trabalhadora.
Por isso a necessidade
da organização das mulheres trabalhadoras. Não como uma
organização a parte, já que pelos motivos mencionados acima isto
não será resolvido com reformas que não alterem as bases de
exploração de nossa sociedade, mas compreendendo sua opressão como
mais um mecanismo de dominação da burguesia. Neste sentido, cabe às
mulheres comunistas a tarefa de estudar ainda mais, de se formar e
de, trabalhando com outras mulheres que muitas vezes ainda não
perceberam esta situação, somar à luta revolucionária. Não como
espectadoras, mas como ativas militantes. Isto já ocorre e sempre
ocorreu.
Foi justamente por isso
que foi proposto um Dia da Mulher. Este surgiu da luta das mulheres
comunistas, como uma proposta de Clara Zetkin em 1910 para o II
Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, realizado na
Dinamarca. Nesse Congresso também estavam presentes Alexandra
Kollontai e Rosa Luxemburgo.
Alexandra Kollontai, em
seu escrito “O Dia da Mulher”, de 1913, ressalta a importância
dessa data para as mulheres socialistas:
“No dia da mulher as
mulheres organizadas manifestam-se contra a sua falta de direitos.
Mas alguns dizem: Por quê esta separação das lutas das mulheres?
Por quê há um dia da mulher, panfletos especiais para
trabalhadoras, conferências e comício? Não é, enfim, uma
concessão às feministas e sufragistas burguesas? Só aqueles que
não compreendem a diferença radical entre o movimento das mulheres
socialistas e as sufragistas burguesas podem pensar desta maneira
(...). Qual o objetivo das operárias socialistas? Abolir todo o tipo
de privilégios que derivem do nascimento ou da riqueza. À mulher
operária é indiferente se o seu patrão é um homem ou uma mulher”.
De seu surgimento até
os nossos dias essa data de luta foi perdendo este caráter classista
do qual fala Alexandra e, abandonando suas raízes comunistas,
abandonou também a idéia de que o fim da opressão das mulheres e a
igualdade plena entre os sexos estão intrinsecamente ligadas com
derrubada do capitalismo.
Neste ano, o ato que
marca o Dia da Mulher, em São Paulo, infelizmente não foi diferente
e fugiu bastante da ideia inicial da data.. Porém lá também
estiveram presentes mulheres empunhando bandeiras que diziam “Viva
as Mulheres Comunistas”, “Viva as Mulheres em Luta”, “Viva as
Guerrilheiras das FARC-EP”. A iniciativa foi do Grupo de Estudos de
Mulheres Comunistas Carla Maria, que com muito entusiasmo, do começo
ao fim do Ato chamaram a atenção com suas palavras de ordem,
bandeiras e organização.
“Nós mulheres
percebemos que apesar dos movimentos e organizações políticas
terem em seu corpo grande parte de mulheres, essas dificilmente
ocupam tarefas de direção, liderança ou elaboração teórica
marxista. Entendendo que as bases materiais nas quais estamos
inseridas determinam que o espaço público pertence aos homens e que
por isso, mesmo entre as trabalhadoras, ocupando esses mesmos
espaços, a participação dos dois geralmente não é
qualitativamente a mesma. A intenção do Grupo não é separar as
coisas, muito menos dividir a classe, mas a partir da compreensão de
que as desigualdades foram socialmente construídas, resolvemos nos
apropriar da teoria marxista elaborada por nossa classe para que
possamos ocupar esse espaço de igual pra igual e junto com os
camaradas levar adiante a luta revolucionária”. Nos explica Carol,
uma das integrantes do Grupo.
Não apenas aqui, mas
em toda a América Latina, mulheres empunham as bandeiras da
Revolução Comunista assim como milhares que todos os anos tombam na
luta revolucionária. Na Colômbia, mulheres lutam e derrubam os
machistas e imperialistas com balaços de fuzil. No Brasil, esses que
se preparem. As mulheres trabalhadoras/ desempregadas voltam a tomar a história em
suas mãos.
Redação da Agencia Inverta