Na segunda parte do artigo sobre brasileiras que mudaram a
história, saiba quem são as atrizes, escritoras, políticas, advogadas e
ativistas que se destacaram, durante as últimas décadas, na luta por
direitos
Por Carla Cristina Garcia (*) e Débora Baldin Lippi Fernandes (**) |
Rachel de Queiroz
Foi tradutora, romancista, escritora, jornalista, cronista
e importante dramaturga brasileira. Envolvida com política e
profundamente interessada nas questões sociais relativas à sua terra de
nascimento, Rachel destacou-se no desenvolvimento do romance nordestino.
Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, e
em 1993, foi a primeira mulher premiada com o Prêmio Camões. Foi presa
em 1937, em Fortaleza, acusada de ser comunista. Exemplares de seus
romances foram queimados.
Maria da Penha
É uma biofarmacêutica brasileira, que lutou contra o
Estado, para que seu agressor fosse condenado por seus crimes. Mãe de
três filhas, ela hoje é símbolo de movimentos em defesa dos direitos das
mulheres e da luta contra a violência doméstica. Na década de 1980, seu
marido à época tentou matá-la duas vezes – na primeira, aos tiros,
simulando um assalto, e na segunda, tentou eletrocutá-la. Por conta da
violência sofrida, ela ficou paraplégica. Sua denúncia chegou à Comissão
Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos (OEA) e foi considerada, pela primeira vez na história, um
crime de violência doméstica.
Iara Iavelberg
Foi uma militante e guerrilheira de extrema-esquerda,
parte emblemática da luta armada contra a ditadura civil-militar no
Brasil. Psicóloga, professora, destemida, vaidosa e divorciada, tudo
isso sem ter sequer chegado aos vinte anos, quebrou todos os tabus da
época, largando um casamento para entrar para a luta armada. Foi adepta
do amor livre, ideia que escandalizava a família brasileira. Depois de
se integrar à luta contra o regime militar, tornou-se companheira do
ex-capitão do exército Carlos Lamarca, um dos principais nomes da
oposição armada ao governo militar no Brasil, até morrer numa emboscada
de agentes do Estado em Salvador, Bahia, em agosto de 1971. De acordo
com a primeira versão do Ministério da Marinha, ela teria se matado,
fato falacioso que foi contestado após após a exumação de seu corpo em
2003.
Cassandra Rios
Pseudônimo de Odete Rios, foi uma escritora brasileira de
ficção, mistério e principalmente romances que envolviam a temática da
homossexualidade feminina e erotismo, sendo uma das primeiras escritoras
a tratar da sexualidade da mulher desta forma. Durante sua carreira,
escreveu mais de quarenta romances com altíssimos índices de venda e foi
a primeira escritora brasileira a atingir um milhão de exemplares
vendidos. Teve 36 de suas obras censuradas durante a ditadura
civil-militar no Brasil. Se envolveu politicamente e foi candidata a
deputada pelo PDT em 1986, mas não se elegeu.
Maria Berenice Dias
É uma jurista brasileira, a primeira mulher a ingressar na
magistratura no estado do Rio Grande do Sul. Sua especialização é
julgar ações que envolvem Direito de Família e Sucessões, de modo a
quebrar o paradigma que sustenta o conceito de família
heterossexualmente composta no Brasil. Cunhou o termo homoafetividade
(já consta nos dicionários brasileiros), ressignificando-o de modo a
extrair o estigma sexual que pairava sobre esse tipo de relação,
ampliando o conceito de família tradicional. É conhecida
internacionalmente por suas posturas progressistas em relação à luta
pelos direitos da mulher e outras minorias.
Leila Diniz
Foi uma atriz brasileira, à frente do seu tempo. Quebrou
tabus em plena ditadura civil-militar. Chocou a sociedade brasileira ao
exibir a sua gravidez de biquíni na praia e ao falar sobre sua
sexualidade sem o menor pudor: “Transo de manhã, de tarde e de noite”.
Ousada e nada afeita a convenções sociais, foi duramente criticada pela
sociedade conservadora das décadas de 1960 e 1970. Leila falava de sua
vida pessoal sem nenhum tipo de pudor. Entrevistas marcantes foram dadas
à imprensa, mas uma em específico se destaca: ela disse ao jornal “O
Pasquim”, em 1969, que “você pode muito bem amar uma pessoa e ir para
cama com outra. Já aconteceu comigo”. A cada trecho transcrito, seus
palavrões eram substituídos por asteriscos.
Dilma Rousseff
Atual presidenta do Brasil, é economista e política
filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi a primeira mulher a ser
eleita para o posto de chefe de Estado e de governo, em toda a história
do país. Tal acontecimento é extremamente significativo, já que ela é um
dos símbolos da resistência popular durante os anos de chumbo. Integrou
organizações baseadas na luta armada, contra o regime civil-militar e,
passou quase três anos presa entre 1970 e 1972 (primeiramente durante a
Operação Bandeirante, Oban), onde foi barbaramente torturada e,
posteriormente, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
(*) Carla Cristina Garcia é doutora em Ciências
Sociais, especialista na área de sociologia do gênero, e professora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
(**) Débora Baldin Lippi Fernandes é graduada em Relações Internacionais pela PUC-SP.
(Crédito da foto de capa: Ichiro Guerra)
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