“Tem gente que pensa que o 8 de Março é o dia de homenagear as mulheres, de dar flores, dizer que elas enfeitam o mundo. Mas não é. Esse é um dia de luta, da luta feminista”, faz questão de lembrar a militante Priscilla Caroline Brito, de 23 anos. A jovem de Brasília trabalha no Centro Feminista de Estudos e Assessoria, o CFEMEA, além de escrever no site “Blogueiras Feministas”. Ela faz parte de uma nova geração de mulheres que luta pela igualdade de gêneros no Brasil.
Depois de conquistarem o direito ao voto na década de 30, de
verem criada a Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher, em
1985, e de festejarem a sanção da Lei Maria da Penha, em 2006, as
feministas brasileiras ainda têm muitas causas pelas quais lutar.
— O feminismo está longe de acabar. Ainda reivindicamos a
legalização do aborto, os direitos reprodutivos, a liberdade sexual, a
autonomia sobre o corpo, a paridade na política, o trabalho digno, a
igualdade nos salários e o combate à violência doméstica — enumera
Priscilla, que foi criada por mãe solteira. — Cresci vendo minha mãe
sofrer discriminação por ser uma mulher com autonomia e três filhas para
criar. Sei que ainda temos muitos preconceitos para derrubar.
Considerado um dos movimentos mais bem-sucedidos do século
XX, o feminismo tem passado por uma reforma. Cai a imagem de uma
militante sisuda e entram em cena manifestações mais irônicas e até
bem-humoradas. Segundo a mineira Anna Steel, que tem 19 anos e, junto
com a parceira de luta Sara Winter, organiza o braço brasileiro do
Femen, a mudança da imagem da feminista está colaborando para aceitação
do movimento.
— Se você perguntasse para alguém, há alguns anos, o que era
uma feminista, muitos diriam: uma lésbica ou uma solteirona de 40 anos
que não se depila. Hoje, quando você faz a mesma pergunta, muita gente
já reponde que é uma mulher que luta pela igualdade de gênero — diz
Anna, acrescentando que, dos cerca de dez e-mails que o Femen Brasil
recebe por dia, seis deles são de meninas de 15 a 18 anos. — Se, antes,
queimávamos sutiãs, hoje, tentamos queimar o moralismo.
Até a queima dos sutiãs da década de 60 foi substituída. Ela deu lugar ao topless
— forma utilizada por grupos como o Femen, criado na Ucrânia, para
chamar atenção da sociedade para a luta pela liberdade sobre o corpo.
— Quando a gente tira a roupa, é para mostrar às pessoas que
costumam se apropriar e vender o corpo da mulher que somos nós que
detemos o poder sobre nossos corpos. Nós podemos fazer o que quisermos
com ele e isso não diz respeito a ninguém — defende Anna Steel.
A forma de disseminar a ideologia também não é mais a mesma.
Hoje, as garotas e mulheres usam a internet como principal arma de
articulação. A Marcha das Vadias, que, como o Femen, prega a libertação
do corpo feminino, conseguiu reunir, em 2012, cerca de 3 mil pessoas em
Brasília, uma das cidades onde ela acontece. E toda a mobilização foi
feita pelas redes sociais.
— Usamos listas de e-mail, Facebook e Twitter não só para
convocar as companheiras, como também para discutir as diversas
vertentes do feminismo. A informação é uma forma poderosa de luta, e nós
estamos reinventando a nossa linguagem — afirma Anna, que também usa a
web para se comunicar com a matriz do Femen, na Ucrânia. — Fazemos
reuniões semanais, e nada disso seria possível sem a internet.
Anna se mudou de Belo Horizonte para o Rio há duas semanas
para, justamente, ficar mais próxima dos grandes eventos esportivos que
começarão a acontecer na cidade a partir de junho, quando será realizada
a Copa das Confederações.
— Já estamos elaborando protestos contra o turismo sexual
para essa época, mas as manifestações vão se intensificar mesmo durante a
Copa do Mundo. A intenção é fazer, pelo menos, duas ações por dia —
avisa Anna.
A ditadura da magreza é outro assunto que está sempre na
pauta das neofeministas. A
carioca Carolina Peterli, de 24 anos, roda as universidades do Rio
levando a discussão sobre os padrões de beleza às estudantes.
— Esse é um tema com o qual as alunas se identificam muito.
As jovens querem ser aceitas na sociedade, mas precisam ter noção de que
muitos dos padrões de beleza não são saudáveis. Não é preciso ter um
peito grande ou pesar 40 quilos para ser amada. Conversamos muito com as
meninas sobre isso — comenta Carolina, recém-formada em Relações
Internacionais pela PUC.
Esta semana, a Escola Politécnida da USP entrou na pauta de
discussão das feministas por conta de um trote repleto de “brincadeiras”
machistas. Na lista de atividades havia itens como “jogar elásticos em
uma caloura de biquíni” ou “filmar bixetes lavando um carro de camiseta
branca”.
— Os homens e mulheres que estão nas comissões de trote
muitas vezes reproduzem a visão que objetifica a mulher. E ainda agem
como se fosse algo natural, como se fosse brincadeira. Por isso, fazemos
uma campanha pelos trotes não machistas nas universidades. As meninas
também devem denunciar — orienta Carolina, da Marcha Mundial das
Mulheres. — Não queremos ser caretas, mas o campus tem que ser um espaço
de confraternização, não de veteranos se sentirem superiores.
Segundo a paulista Natalia Totta, que tem 23 anos e é
associada ao Femen, há outros momentos do dia a dia das jovens nos quais
o machismo aparece.
— Quando pagamos menos para entrar na balada, é porque
estamos sendo usadas como iscas para atrair homens. Isso é uma forma de
tratar as meninas como objetos — define Natalia, apontando que, em
muitos casos, as próprias garotas reafirmam a visão machista: — Quando
meu namorado olha para um menina na rua, por que eu chamo ela de vaca? O
porco é ele. Sejamos mais solidárias, mulheres!
— A unidade só beneficia o movimento. Por isso, devemos
buscar os pontos de convergência e não deixar que as diferenças nos
enfraqueçam.
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