sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

RESISTIR É PRECISO!




                Debaixo das árvores, na sombra ou sob o sol, a brisa leve soprando e alimentando as falas, as danças, as místicas, ouvidos atentos, O GRÃO, moeda social, circulando por entre as bancas da Economia Solidária,  UM FORA TEMER (e Sartori) a cada cinco minutos ou menos em todos os lugares e ocasiões, inclusive na festa/comemoração de mais de mil pessoas no Assentamento 20 de Novembro, o Movimento Nacional da População em Situação de Rua, vendendo seu jornal  Boca de Rua, enquanto recolhia papéis, latas e tudo que pudesse ser aproveitado ou ser recolhido, gente de todas as tribos, etnias, idades, crenças, mil atividades, Cirandas, Rodas de Conversa, debates, um sentimento comum de que é preciso resistir – e todos resistem e resistirão! -. Foi o Fórum Social das Resistências acontecido entre 17 e 21 de janeiro no Parque da Redenção em Porto Alegre, capital das gaúchas e gaúchos, e à espera e preparação do Fórum Social Mundial, março de 2018, em Salvador, Bahia.
                Nem terminou 2017 e parece que já se passou um ano, passaram dois anos, quase uma década, tal a intensidade dos acontecimentos e das tragédias, e tudo mais.
As prisões e o sistema carcerário do Brasil, as revoltas, os assassinatos, a dor, o sofrimento, a inépcia conservadora do governo federal com o chamamento do Exército, e o corajoso e coerente pedido de afastamento dos membros do Conselho Nacional Penitenciário.
                Teori: acidente, fatalidade ou uma urdida trama que vai, como tantas outras na história do Brasil, permanecer nas sombras, cheia de dúvidas e teorias conspiratórias?
                Trump e o muro no México e tantas outras barbaridades, em pleno século XXI.
                O fascismo à volta, em manifestações, gestos, palavras, decisões.
                O Brasil do crescimento do desemprego, da crise em todos os sentidos, da democracia ameaçada e amordaçada.
                A América Latina, que estava florindo, e agora imersa em retrocessos e impasses.
                O mundo e suas multidões vagando perdidas, sem horizonte e sem esperança, a direita conservadora avançando em todos os continentes, a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento e as ameaças e tragédias ambientais.
                Ao mesmo tempo, o Fórum Social das Resistências, novas vozes, novos rostos, energias renovadas, esperança.
                Uma nova sociedade? Muito longe disso, mas as sementes, mesmo em meio à violência, ao fascismo e intolerância reinantes, são sinais, às vezes lágrimas, muitas vezes dor. As pessoas, lutadoras e lutadores, não se entregam, não desistem. Lutam, resistem, se organizam, fazem da educação popular espaço de consciência e cimento do novo, pregam e vivem a solidariedade, o amor, a paz, o respeito a tudo e a todos e suas formas de viver, pensar e amar.
Paulo Freire escreveu À SOMBRA DA MANGUEIRA há muitos anos, e vale ler/reler/proclamar/anunciar:
 “Escolhi a sombra desta árvore para
 repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
 Por isso, enquanto te espero,
 trabalharei os campos e
conversarei com os homens.
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais;
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera,
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.

Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir.
É perigoso falar.
É perigoso andar.
É perigoso, esperar, na forma em que esperas,
porque esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
antes te denunciam.

Esperarei a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.”
Selvino Heck
Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
Em vinte e sete de janeiro de dois mil e dezessete

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