Debaixo das
árvores, na sombra ou sob o sol, a brisa leve soprando e alimentando as falas,
as danças, as místicas, ouvidos atentos, O GRÃO, moeda social, circulando por
entre as bancas da Economia Solidária, UM FORA TEMER (e Sartori) a cada cinco minutos
ou menos em todos os lugares e ocasiões, inclusive na festa/comemoração de mais
de mil pessoas no Assentamento 20 de Novembro, o Movimento Nacional da
População em Situação de Rua, vendendo seu jornal Boca de Rua, enquanto recolhia papéis, latas
e tudo que pudesse ser aproveitado ou ser recolhido, gente de todas as tribos,
etnias, idades, crenças, mil atividades, Cirandas, Rodas de Conversa, debates,
um sentimento comum de que é preciso resistir – e todos resistem e resistirão!
-. Foi o Fórum Social das Resistências acontecido entre 17 e 21 de janeiro no
Parque da Redenção em Porto Alegre, capital das gaúchas e gaúchos, e à espera e
preparação do Fórum Social Mundial, março de 2018, em Salvador, Bahia.
Nem terminou 2017 e
parece que já se passou um ano, passaram dois anos, quase uma década, tal a
intensidade dos acontecimentos e das tragédias, e tudo mais.
As prisões e o sistema carcerário do Brasil, as
revoltas, os assassinatos, a dor, o sofrimento, a inépcia conservadora do
governo federal com o chamamento do Exército, e o corajoso e coerente pedido de
afastamento dos membros do Conselho Nacional Penitenciário.
Teori: acidente,
fatalidade ou uma urdida trama que vai, como tantas outras na história do
Brasil, permanecer nas sombras, cheia de dúvidas e teorias conspiratórias?
Trump e o muro no
México e tantas outras barbaridades, em pleno século XXI.
O fascismo à volta,
em manifestações, gestos, palavras, decisões.
O Brasil do
crescimento do desemprego, da crise em todos os sentidos, da democracia
ameaçada e amordaçada.
A América Latina,
que estava florindo, e agora imersa em retrocessos e impasses.
O mundo e suas
multidões vagando perdidas, sem horizonte e sem esperança, a direita
conservadora avançando em todos os continentes, a insustentabilidade do modelo
de desenvolvimento e as ameaças e tragédias ambientais.
Ao mesmo tempo, o
Fórum Social das Resistências, novas vozes, novos rostos, energias renovadas,
esperança.
Uma nova sociedade?
Muito longe disso, mas as sementes, mesmo em meio à violência, ao fascismo e
intolerância reinantes, são sinais, às vezes lágrimas, muitas vezes dor. As
pessoas, lutadoras e lutadores, não se entregam, não desistem. Lutam, resistem,
se organizam, fazem da educação popular espaço de consciência e cimento do novo,
pregam e vivem a solidariedade, o amor, a paz, o respeito a tudo e a todos e
suas formas de viver, pensar e amar.
Paulo Freire escreveu À SOMBRA DA MANGUEIRA há
muitos anos, e vale ler/reler/proclamar/anunciar:
“Escolhi
a sombra desta árvore para
repousar
do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por
isso, enquanto te espero,
trabalharei os campos e
conversarei com os homens.
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais;
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera,
porque o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir.
É perigoso falar.
É perigoso andar.
É perigoso, esperar, na forma em que esperas,
porque esses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão
dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
antes te denunciam.
Esperarei a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.”
Selvino Heck
Deputado estadual constituinte do Rio Grande do
Sul (1987-1990)
Em vinte e sete de janeiro de dois mil e
dezessete
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